Pensamento positivo não evita depressão, comenta psiquiatra
“Estranho seria se em nenhum momento os pensamentos ruins passassem pelas nossas cabeças“ – é o que revela o psiquiatra e pesquisador do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA) do Hospital das Clínicas da USP, Dr. Diego Tavares CRM/SP:145.258.
Normalmente nossos pensamentos, sentimentos e emoções são desencadeados por estímulos ambientais que vivenciamos, quer seja externamente quando estamos em um ambiente alegre conversando com pessoas queridas ou internamente quando lembramos de uma memória ruim e temos pensamentos negativos. “Ter pensamentos negativos faz parte da psicologia normal do nosso cérebro, estranho seria uma pessoa que tem memórias sobre situações aversivas ou que esteja em um ambiente não amigável e que não tenha pensamentos desagradáveis ou vivências afetivas ruins“, comenta.
O indivíduo com depressão apresenta uma alteração química cerebral que distorce a forma como ele pensa e sente as emoções. A forma de pensar é negativa e toda afetividade (sentimentos e emoções) que acompanha o pensamento também. A percepção das sensações também pode ser distorcida para o negativa, por exemplo, quando o deprimido tem alucinações em que escuta vozes ou vê imagens ruins.
“Quando a pessoa não está deprimida e portanto não apresenta um transtorno cerebral químico subjacente a isso, ela consegue controlar os pensamentos e pensar positivamente ou podem até ficar com os pensamentos negativos diante de uma adversidade mas estes pensamentos e esta maneira de enxergar e enfrentar a realidade se normalizam em alguns dias“, explica o psiquiatra que exemplifica, “depois de perder um emprego, após a morte de um ente querido ou ao final de um relacionamento, é natural que os pensamento negativos pairem mais do que os positivos, mas se a pessoa tiver risco para depressão, é possível que depois de estressores psicológicos como estes o cérebro se altere e a partir daí todo o funcionamento passa a ser controlado pelo modo depressivo de o cérebro funcionar “.
O que vale saber é que nem todo transtorno do humor requer tratamento medicamentoso e a maioria tem resolução espontânea, ou seja, a pessoa até fica com o pensamento e as vivências afetivas alteradas por um período mas com o passar do tempo ou por meio da mudança do estilo de vida, correção dos ritmos biológicos como sono e vigília, entre outras medidas os sintomas vão melhorando e a pessoa volta a se comportar como se comportava antes. “Em outros órgãos do nosso corpo, alterações leves podem levar a quadros brandos que se corrigem apenas com a evolução temporal e com o cérebro em termos químicos (psiquiátricos) não é diferente. É importante lembrar que estados depressivos não são doenças psicológicas, os estressores psicológicos são geralmente gatilhos e atuam como fatores que quebram um equilíbrio do cérebro e levam a um funcionamento anormal. Mas, a depressão também não é uma doença somente cerebral, hoje sabe-se que é uma doença do organismo como um todo. A pessoa deprimida tem mais alterações de pressão arterial, mais quadros dolorosos, mais infecções, mais doenças auto-imunes como gastrite, vitiligo, endometriose e lúpus“, explica Dr Diego.
Depois de instalada a depressão é essencial a ajuda médica para se livrar do problema. “O tratamento deve ser feito com medicamentos e com o suporte de psicoterapias comportamentais, que são a maneira mais eficaz de tratar doenças depressivas que não se resolveram apenas com o passar do tempo ou mudança de estilo de vida,“ finaliza o psiquiatra.
FONTE: Dr. Diego Taraves
Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra Pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos do ABC (PRTOAB).
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